O estrangeiro em Freud e Walter Benjamin

CURSO MINISTRADO POR: Alessandra Affortunati Martins

VAGAS: Fora

CARGA HORÁRIA:

DIAS DO CURSO: 09, 10, 11 e 12/11/2020 - 20h

 

Contra moldes fascistas, o objetivo do curso é resgatar a ideia de estrangeiro na psicanálise de Freud e na filosofia de Walter Benjamin.

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Ementa do Curso

Entre 1934 e 1938, o pai da psicanálise está obcecado pela controversa imagem de um Moisés que não seria judeu, mas sim egípcio. Quando redige O homem Moisés e a religião monoteísta, circunscreve a categoria de estrangeiro que será decisiva para debates contemporâneos da psicanálise e da filosofia pós-colonialistas e não-identitárias. Seu Moisés foi escrito no calor da hora: com a anexação da Áustria pela Alemanha nazista de Hitler, o pai da psicanálise será obrigado a exilar-se na Inglaterra, aprofundando seus afetos relacionados à posição de estrangeiro, já experimentada na pele como judeu-europeu. A ousada tese freudiana é capaz de romper com toda historiografia eurocêntrica e judaico-cristã do Ocidente, como mostra Edward Said em Freud e os não-europeus. Com a noção de estrangeiro, Freud subverte tanto os ideais nazifascistas de pureza da raça e de nacionalismo, como os ideais sionistas pautados na identidade judaica.

No curso, a articulação de Freud com Benjamin visará aprofundar o caráter estrangeiro inerente à linguagem da tradução e o lugar em que o estrangeiro se situa, o limiar. Diferente da noção de fronteira, simples divisória identitária entre dois territórios distintos, Benjamin amplia e concede densidade a um lugar de passagem. Analisaremos como desse suposto “não-lugar” nascem outras formas estéticas e éticas. A partir da análise de alguns textos de Walter Benjamin sobre fascismo e modernidade será possível elucidar a vivacidade dos debates pós-colonialistas e não-identitários mencionados e com ele observar os meandros da clínica psicanalítica e da política contemporânea, pautada em aspectos identitários de sujeitos suplantados pela lógica unívoca da mercadoria.

Autores de referência: Freud e Walter Benjamin

1o. encontro: Como a categoria de estrangeiro pode ser definida?

Trata-se aqui de mostrar como o estrangeiro aparece na obra de Freud. Tal categoria está presente de maneira clara no texto “O homem Moisés e a religião monoteísta” de 1934-38. Neste período, ocorre a ascensão do nazifascismo na Europa e a categoria de estrangeiro é a antítese da visão fascista preponderante na época. No primeiro encontro todos esses aspectos históricos serão explicados em conexão com a distinção dos dois modelos de pensar a cultura: o fascista que se dá de forma identitária (nacionalismo, raça pura, eliminação do diferente etc.) e o estrangeiro (forma mestiça, línguas sobrepostas, imbricação entre diferenças).

2o. encontro: Limiar como lugar do estrangeiro

No segundo encontro, a ideia é mostrar o lugar do estrangeiro. A fronteira é apenas uma linha divisória entre os diferentes territórios. Se expandida, ela ganha densidade, podendo se tornar uma morada: o lugar do estrangeiro. Veremos, então, a distinção feita por Walter Benjamin entre as noções de fronteira e limiar, e o estrangeiro como aquele que sempre está num lugar de passagem. Tal lugar é um lugar de errância e exílio que permite desnaturalizar hábitos e conceitos fixados numa determinada cultura de viés eurocêntrico purista.

3o. encontro: A palavra estrangeira

Como a linguagem é demarcada neste território impreciso? Os textos de Benjamin “Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem do homem” e “A tarefa do tradutor” se articularão aqui com o nome de Moisés analisado por Freud em “O homem Moises e a religião monoteísta”. A ideia, neste encontro, é mostrar que o estrangeiro expande e alastra os limites do familiar, indicando como a linguagem e a cultura próprias de territórios e sujeitos podem chegar a lugares imprevisíveis na mescla com aquilo que é impróprio (estrangeiro).

4o. encontro: O estrangeiro e sua dimensão política

A categoria de estrangeiro implica, então, na imbricação do sujeito com os objetos. É saindo de si e embarcando no caráter opaco dos objetos que os sujeitos estariam mais afeitos ao modelo aqui proposto: o do estrangeiro. Resgatando a crítica marxista ao fetiche da mercadoria, que coloca tudo no interior da lógica do consumo e iguala todos os objetos, mostraremos que a materialidade inerente a cada coisa enredada numa superestrutura é que deve dar as diretrizes para os aspectos formais da cultura. A psicanálise auxilia a realizar este procedimento na medida em que opera farejando a singularidade histórica da subjetividade e de cada afeto.

Bibliografia básica que poderá ser complementada:

Barrento, J. (2013). Limiares sobre Walter Benjamin. Florianópolis: Editora UFSC.         Benjamin, W. (1916). Trauerspiel und Tragödie. In Walter _______. Gesammelte Schriften II-1, Herausgegeben von Rolf Tiedemann und Hermann Schweppenhäuser. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1991.

_______. (1919). Destino e caráter. In Walter Benjamin. Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Editora 34, 2011.

Benjamin, W. ______. (1921) O capitalismo como religião. Op. Cit.

______. (1930) E. T. A. Hoffmann e Oskar Panizza. In: O capitalismo como religião. São Paulo: Boitempo, 2013.

______. (1930a) Teorias do fascismo alemão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

______. (1930b) Teorias do fascismo alemão. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1994.

______. (1933) Experiência e pobreza. Op. cit.

______. (1936) O narrador. Op. cit.

______. (1940) Sobre o conceito de história. In: LÖWY, W. Walter Benjamin: aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, 2005.

______. Passagens. Belo Horizonte: UFMG & Imprensa Oficial, 2006.

______. Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem do homem. In: Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Editora 34, 2011.

______. A tarefa do tradutor. In: Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Editora 34, 2011.

______. Brief an Gerhard Scholem 21/07/1925. In: Briefe I. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1978.

Butler, J. Who owns Kafka? London review of books, Winter Lectures, 2011. In: https://www.youtube.com/watch?v=234npiDz-SE. Acesso: 10 set. 2017.

Derrida, J. Mal de arquivo: uma impressão freudiana, Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

Fédida, P. O sítio do estrangeiro. São Paulo: Escuta, 1996Freud, S. O homem Moisés e a religião monoteísta. Porto Alegre: L&PM, 2014.

Freud, S. (1895) Projeto de uma psicologia. In: GABBI Jr. O. F. Notas a projeto de uma psicologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

______. (1913) Totem e tabu. In: Obras Completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

______. (1915) Artigos sobre metapsicologia. Op. cit.

______. (1917) Luto e melancolia. Op. cit.

______. (1919) O inquietante. Op. cit.

______. (1920) Além do princípio do prazer. Op. cit.

______. (1927) Fetichismo. Op. cit.

______. (1930) Mal-estar na civilização. Op. cit.

______. (1936) Um distúrbio de memória na Acrópole. Op. cit.

______. (1937a) Construções em análise. Op. cit.

______. (1934-8) O homem Moisés e a religião monoteísta. Op. cit.

_______. O Moisés de Michelangelo. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______. A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilheim Fliess. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

Grenzer, M.; Fernandes, L. A. Êxodo. São Paulo: Paulinas, 2011.

Lacan, J. O Seminário, livro 7. A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

_______. (1961-2). O Seminário 9, A identificação. Recife: Centro de Estudos Freudianos de Recife, 2003.

Menninghaus, W. (1995). Walter Benjamins Theorie der Sprachmagie. Frankfurt am Main: Suhrkamp.

Ska, J. L. (2014). Introdução à leitura do Pentateuco. São Paulo: Edições Loyola.

Said, E. Freud e os não-europeus, São Paulo: Boitempo, 2004

Strachey, J.) Nota do editor inglês ao Moisés e o monoteísmo. In: Freud, S. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Yerushalmi, Y. H. O Moisés de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1992.

 

Aspectos técnicos
O curso será transmitido pela plataforma Google Meet. No dia do primeiro encontro, os alunos receberão um email com as instruções, informações sobre a dinâmica das aulas e um link para acessar a videoconferência. Para acessar a plataforma pelo desktop, basta clicar no link. Para acessar pelo smartphone, é preciso baixar o aplicativo do Meet. Todas as aulas são gravadas e enviadas por e-mail para a turma após cada encontro. O curso é certificado para quem assistir a 75% das aulas ao vivo. Para mais informações: [email protected]

 

 

Ministrado por

Alessandra Affortunati Martins

Psicanalista e pesquisadora de pós-doutorado pelo departamento de filosofia da FFLCH-USP (bolsa FAPESP). É psicóloga (PUC-SP), bacharel em filosofia (FFLCH-USP), doutora em Psicologia Social (IP-USP) com estágio no Zentrum für Literatur und Kulturforchung (ZfL). Autora do livro “Sublimação e Unheimliche” (Casa do Psicólogo, 2016 – no prelo).

Aulas

AULA 1
Data: 09/11/2020
Horário: das 20h às 22h

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AULA 2
Data: 10/11/2020
Horário: das 20h às 22h

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AULA 3
Data: 11/11/2020
Horário: das 20h às 22h

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AULA 4
Data: 12/11/2020
Horário: das 20h às 22h