Introdução ao pensamento de Vilém Flusser

Ementa do Curso

A vasta obra do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser (1920-2020) traduz a procura de uma síntese. Um modelo de pensamento capaz de articular o contemporâneo e que conjugue palavra e imagem – língua e aparelho. Imigrante judeu, Flusser chega ao Brasil em 1940, onde escreve, em português, a base de sua filosofia da linguagem. De volta à Europa, em 1972, leva uma vida nômade, com palestras, conferências e viagens, mas
concentrada primeiro na Itália, em Merano, e depois na França, na Provença. No Velho Continente, abre-se às novas mídias e às recentes experiências artísticas. Neste período, Flusser observa uma mudança nos gestos humanos, que deixam de manipular coisas e objetos e passam a lidar com programas e símbolos. Flusser levanta, assim, a urgência de
um jogo criativo com os aparelhos produtores de imagem, jogo este que não deveria, neste esforço, abandonar o pensamento textual. Para o autor, forjar uma imaginação política passa por escrever textos imagináveis, e por elaborar imagens conceituais. A partir destas premissas, e tendo em vista que 2020 marca o centenário do filósofo, a proposta deste
curso é oferecer uma visão geral e introdutória acerca do pensamento de Flusser, ao mesmo tempo em que se dispõe a indicar caminhos de estudo aos já iniciados em sua obra. O curso não requer leitura prévia e está aberto a todos os públicos.

Aula 1
Vilém Flusser: judeu, desterrado, plurilíngue. Apresentação do ministrante e dos participantes. Panorama geral da vida e da obra de Flusser. Origem judia, fuga do nazismo, chegada ao Brasil. Pensador sem fundamento e apátrida. O método Flusser: ensaísmo breve, múltiplas línguas e autotradução. O retorno à Europa e a morte trágica.

Aula 2
Língua é realidade: primeiras obras publicadas, no Brasil, e em português. A língua enquanto aspecto estruturante da realidade. Tantas são as realidades quantas são as línguas articuláveis. A realidade objetiva como articulação linguística. A filosofia como trabalho com, e de, linguagem. A poesia como produtora de língua.

Aula 3
Teoria dos media ou teoria da imagem: o retorno à Europa e o mergulho nas novas mídias. Definição de conceitos-chave: programa, aparelho, caixa-preta, funcionário. A interface com as artes e o diálogo com artistas. A relação entre a arte e a ciência. Ficção filosófica.

Aula 4
Flusser e o Brasil: o “modelo” Flusser como forma de imaginar o Brasil contemporâneo. A tentativa de Flusser de reorganizar a Bienal de Arte de São Paulo. Interlocuções brasileiras: Guimarães Rosa, Haroldo de Campos, Dora Ferreira da Silva, Sérgio Paulo Rouanet e outros. Encaminhamentos finais e balanço dos encontros anteriores.

Bibliografia básica do curso*
*bibliografia que embasa as ideias centrais do curso, mas não obrigatória

Aula 1
FLUSSER, Vilém. Bodenlos: uma autobiografia filosófica. São Paulo: Annablume, 2007.
FLUSSER, Vilém. A história do diabo. São Paulo: Annablume, 2008.

Aula 2
FLUSSER, Vilém. A dúvida. São Paulo: Annablume, 2011.
FLUSSER, Vilém. Língua e Realidade. São Paulo: Annablume, 2007.
FLUSSER, Vilém. Há futuro para a escrita?. Trad.: Murilo Jardelino da Costa. São
Paulo: Annablume, 2010.

Aula 3
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaio para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2011.
FLUSSER, Vilém. Natural:mente: vários acessos ao significado de natureza. São Paulo: Annablume, 2011.
FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade. São
Paulo: Annablume, 2012.
FLUSSER, Vilém. Gestos. São Paulo: Annablume, 2014.

Aula 4
FLUSSER, Vilém. Pós-história: vinte instantâneos e um modo de usar. São Paulo: Annablume, 2011.
FLUSSER, Vilém. Fenomenologia do brasileiro: em busca do novo homem. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.
FLUSSER, Vilém. Vampyroteuthis Infernalis. São Paulo: Annablume, 2011