Filosofias populares brasileiras
CURSO MINISTRADO POR: Rafael Haddock-Lobo
VAGAS: Fora
CARGA HORÁRIA: 10h
DIAS DO CURSO: 01, 08, 15, 22 e 29/09/2021 - 19h
O curso tem como objetivo mostrar a relevância filosófica dos saberes populares. Em um diálogo com a História, a Antropologia e a Geografia, o campo de uma Filosofia Popular Brasileira precisa ser firmado e afirmado como um lugar privilegiado para se entender o pensamento brasileiro.
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Ementa do Curso
O curso tem como objetivo mostrar a relevância filosófica dos saberes populares. Sempre tidos por simples ou fáceis, a sabedoria popular acaba nunca sendo levada em consideração quando falamos de sistemas filosóficos e outras possíveis perspectivas epistemológicas, éticas, políticas e estéticas. É nesse sentido que, em um diálogo com a História, a Antropologia e a Geografia, o campo de uma Filosofia Popular Brasileira precisa ser firmado e afirmado como um lugar privilegiado para se entender o pensamento brasileiro. É nesse sentido que esse curso se dividirá em 5 aulas, a fim de traçar os aspectos gerais desses encontros de saberes que, apenas eles, de modo transdisciplinar, podem dar conta da beleza e da pluralidade de tramas e tecidos que constituem nossas brasilidades.
Aula 1: O que é a Filosofia Popular Brasileira?
Se há ainda uma certa relutância da academia com relação ao uso do termo “filosofia brasileira”, pode parecer radical demais se defender que, além de uma filosofia acadêmica, haja uma filosofia que não seja produzida dentro dos muros das universidades. É nesse sentido que é urgente que as universidades se debrucem sobre a imensidão de saberes que são produzidos nas ruas, nas rodas de samba, nos terreiros, a fim de entender a complexa produção conceitual que esses saberes nos propiciam a pensar. Nesse primeiro encontro, buscaremos entender a importância de uma Filosofia Popular Brasileira e como essa tarefa pode ser assumido nos dias de hoje. Trata-se, nesse sentido, não apenas de uma urgência teórica, mas, sobretudo, ética e política de nossos tempos atuais, em que saberes e corpos são assassinados, satanizados e rebaixados diante de uma estrutura colonial perversa e aniquiladora.
Aula 2: As Humanidades Encantadas
Professora Convidada: Thamara Rodrigues (Historiadora, UEMG)
As Humanidades no mundo contemporâneo têm sido marcadas por uma disposição específica que denominamos “encantamento”. A Filosofia, a História, a Antropologia, as Ciências Sociais, a Geografia – dentro de suas especificidades – têm manifestado a necessidade de uma forma de pesquisa e de escrita que procuram ir além do caráter exclusivamente técnico e pragmático do conhecimento. Há um processo de abertura para “objetos” menos canônicos e convencionais, que procura pensar a partir de um acolhimento do que está ao nosso entorno, das manifestações da cultura e da história popular, das filosofias e saberes não exclusivamente ocidentais… Nesse movimento, a relação com o real ganha outras camadas para além de sua simplificação em narrativas lógico-formais. A imaginação, a dúvida, o mistério, a epifania, os afetos são incorporados mais radicalmente, permitindo às Humanidades se tornarem um espaço de encantamento e reencantamento do mundo: abrigam a diferença e podem oferecer condições para que múltiplos modos de existir e de praticar o olhar sobre a existência se manifestem. No caso particular da História, essa disposição afetiva do encantamento nos convida a descobrir futuros possíveis (obscurecidos ou ainda não-imaginados) a partir de um olhar cuidadoso, aberto, empático e crítico dos passados que nos constituem. Está em jogo, portanto, a descoberta de outros mundos possíveis, outros modos de pensar e de viver.
Aula 3: Sobre encontros entre africanos e ameríndios: novas possibilidade filosóficas
Professora Convidada: Karine L. Narahara (Antropóloga, UFRJ)
A partir de um encontro entre a Filosofia e a Antropologia, parece fundamental que pensemos, a partir dessa especificidade dos saberes não ocidentais, que partem sempre de um princípio de acolhimento do outro, a importância das alianças que surgem dos encontros entre africanos e ameríndios em nossos território. Os encontros entre africanos e os primeiros habitantes dessas terras está atravessado de forma trágica e violência pela invasão europeia – mas não só. bell hooks, no belo texto que encerra o livro “Olhares negros”, recém traduzido para o português, ao falar de sua origem africana e Cherokee nos lembra que negros e ameríndios estão conectados bem antes da invasão e do sequestro coloniais. A proposta desse terceiro momento do curso, portanto, consiste em falarmos de algumas das potências desses encontros, que vêm reverberando no interior da produção antropológica contemporânea e que devem alimentar a construção dos saberes filosóficos.
Aula 4: O Atlântico como encruzilhada
Professora Convidada: Mariane Biteti (Geógrafa, UERJ)
Da fricção do movimento divergente das placas tectônicas, surge o Atlântico. E ao longo de todo esse tempo, ele vem se expandindo. Junto com a sua expansão, a humanidade foi se formando e, diante das suas relações oceânicas, se movimentando. Nesse espaço móvel do mar, um misto de medo e encantamento, de violência e de esperança. Nos desvios e nos cruzos, no trânsito e no transe, os saberes de uma diáspora contaminada pela mistura e pelo movimento, reforçam o sentido de uma grande complexidade cultural descentrada. Quando do encontro com as margens, a terra estabelece o limite, o mar responde com onda, essa onda tenta transgredir o limite imposto, assim acontece com as existências das margens litorâneas, que vivem a pulsão da força dos encontros. Na formação do Brasil, de uma violência originária e incontestável, havia a força, o acolhimento e o encantamento da nossa mãe africana, Iemanjá. Ela que desceu pelo rio Osún na Nigéria, até o Atlântico, no Golfo da Guiné. Se no continente africano, Iemanjá é cultuada nos rios, no Brasil ela chega pelo mar.
O Atlântico é um espaço geográfico e filosófico que alimenta um conhecimento das incertezas, das errâncias, dos desvios, da falta de origem, tal como o Timoneiro cantado por Paulinho da Viola “e quanto mais remo mais rezo, pra nunca mais se acabar, essa viagem que faz, o mar em torno do mar. Meu velho um dia falou, com seu jeito de avisar: olha, o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar”. Mas é essa viagem anti-odisseica que queremos fazer, pelas águas encantadas de Iemanjá. Saravá cheguemos em muitos lugares ou mesmo em nenhum lugar.
Aula 5: Entre a filosofia da macumba e a macumba da filosofia
O último encontro do curso, após a apresentação da ideia de uma Filosofia Popular Brasileira e das discussões em torno da importância do diálogo transdisciplinar para uma compreensão mais justa dos saberes não-acadêmicos, precisa firmar certas ideias de uma espécie de “giro decolonial” que o pensamento precisa dar a fim de conseguir dar conta desses saberes múltiplos. É nesse sentido que, ao invés de um giro, talvez a filosofia precise empreender uma “gira”, em que se gira como o giro, mas que, além desse movimento, entram a ideia de dança, de música, de festa, fundamentais para as rodas dos saberes populares, como o samba, o jongo, a capoeira e as macumbas. Mas como seria essa gira? Em que sentido a própria ideia de “Macumba” pode ajudar a pensar em um outro modo de se fazer filosofia? O encantamento, o feitiço que se faz pelas palavras, o aspecto comunitário da produção de conhecimento e a participação do corpo nesse processo serão fundamentais para firmar essa “gira macumbística” da filosofia brasileira.
Aspectos técnicos
As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá essas instruções no dia da primeira aula.
Nossas aulas são transmitidas ao vivo, mas são também gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Oferecemos certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.
Para mais informações: [email protected]
Ministrado por
Rafael Haddock-Lobo
Professor do Departamento de Filosofia da UFRJ, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UERJ e de Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, Doutor em Filosofia pela PUC-Rio, é autor, coautor e organizador de diversas obras em torno da Filosofia Contemporânea, como Da existência ao infinito: ensaios sobre Emmanuel Lévinas (Loyola / PUC-Rio), Derrida e … Continue lendo “Rafael Haddock-Lobo”
Aulas
AULA 1
Data: 01/09/2021
Horário: das 19h às 21h
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AULA 2
Data: 08/09/2021
Horário: das 19h às 21h
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AULA 3
Data: 15/09/2021
Horário: das 19h às 21h
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AULA 4
Data: 22/09/2021
Horário: das 19h às 21h
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AULA 5
Data: 29/09/2021
Horário: das 19h às 21h