A poesia queer de Emily Dickinson
CURSO MINISTRADO POR: Adalberto Müller
VAGAS: Fora
CARGA HORÁRIA: 8h
DIAS DO CURSO: 18, 19, 20 e 21/01/2022 - 19h
É a poesia de Dickinson que se assume como queer, na medida que recusa praticamente todas as regras do “bom comportamento” literário, questiona as formas e formações discursivas de poder e autoridade e introduz temas inusitados e provocadores na poesia, temas que só viriam deixar de ser tabus a partir dos anos 1960 na poesia americana. Evidentemente, a leitura dessa Emily Dickinson queer depende muito de uma visada menos essencialista e menos heteronormativa/paternalista para seus poemas e cartas. E, entre nós, de uma nova forma de traduzir os seus poemas.
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Ementa do Curso
Não faltam anedotas sobre a vida de Dickinson. A mais famosa delas é que se tratava de uma moça tímida, casta e reclusa. Quase uma freira. Mas até que ponto essa é uma imagem que serve a uma produção discursiva de caráter heteronormativo e paternalista da literatura, se não da mulher? Como veremos neste curso, leituras contemporâneas da obra da poeta americana revelam antes uma pessoa “conectada” com o mundo de um modo menos “estranho” que aquele que seus contemporâneos (mal) perceberam. Por exemplo, Dickinson já havia pensando uma “rede social”, dentro da qual se comunicava; já havia pensado também novas formas de se relacionar com a “natureza” (ou com o “meio ambiente”, em especial com os pássaros e as plantas); leitora ávida de textos científicos (inclusive de Charles Darwin) e de jornais, Dickinson já havia tratado de temas polêmicos para a sua época, e descreveu, de forma oblíqua, os horrores da primeira guerra moderna, a Guerra Civil americana. Do ponto de vista afetivo, seus poemas deixam entrever o relacionamento lésbico ou poliamoroso de Dickinson, coisa que as recentes produções audiovisuais como a série Dickinson (Apple TV+, 2020/2021) hoje exacerbam.
Assim, a leitura de seus poemas por uma ótica queer revela que a questão de gênero (gender) em Dickinson é complexa, apontando para uma sexualidade, no mínimo, difusa. A partir daí, os motivos da reclusão de Dickinson também podem ser relidos por uma ótica distinta daquela da reclusão monástica: ela passa pelos eventos traumáticos da Guerra Civil, pela aceleração industrial em Massachusetts, pela recusa ao modelo heteronormativo/paternalista, pela decisão de escrever uma obra volumosa, pela decepção com seus prováveis editores, por problemas graves de saúde e de doenças na família, e, por fim, por problemas psicológicos/psicanalíticos a que não temos acesso senão por uma leitura “arqueológica” das suas cartas e dos seus poemas com outras formações discursivas.
Tudo isso somado, a visão que temos hoje de Emily Dickinson permite-nos situá-la muito mais no campo performativo de uma identidade queer do que de uma moça tímida e recatada que escrevia bilhetinhos de amor cifrados a senhores de boa reputação. Mais do que isso, como veremos, é a própria poesia de Dickinson que se assume como queer, na medida que recusa praticamente todas as regras do “bom comportamento” literário, questiona as formas e formações discursivas de poder e autoridade (nem Deus escapa do crivo crítico de Dickinson) e introduz temas inusitados e provocadores na poesia, temas que só viriam deixar de ser tabus a partir dos anos 1960 na poesia americana. Evidentemente, a leitura dessa Emily Dickinson queer depende muito de uma visada menos essencialista e menos heteronormativa/paternalista para seus poemas e cartas. E, entre nós, de uma nova forma de traduzir os seus poemas.
II – Metodologia: Ao longo das aulas do curso, os participantes terão acesso a documentos e bibliografia e de difícil acesso no Brasil, para entender como a crítica tem lidado com a questão “queer” em Dickinson (e com a reavaliação crítica de sua obra). A parte mais importante do curso, porém, consistirá na leitura cerrada de poemas decisivos, selecionados dos dois volumes da poesia completa em sua edição crítica (Emily Dickinson. Poesia Completa. V. I Os Fascículos. Brasília. Editora da UnB; Editora da Unicamp, 2020; Emily Dickinson. Poesia Completa. V. II. Folhas soltas e perdidas. Brasília. Editora da UnB; Editora da Unicamp, 2021). Os poemas serão lidos sempre em inglês e em português, e os participantes terão acesso a detalhes sobre o difícil processo de tradução, bem como serão encorajados a mostrar suas opções de tradução.
III – Bibliografia. Além dos dois volumes da obra de Dickinson citados acima, recomenda-se a visualização da série Dickinson (Apple TV+).
IV – Pré-requisitos: conhecimentos mínimos de língua inglesa são desejáveis, mas não obrigatórios. O interesse pela leitura de poesia é o que mais conta.
Ministrado por
Adalberto Müller
Professor Associado de Teoria da Literatura da UFF, escritor e tradutor. É Member-At-Large (mandato 2021-2023) da Emily Dickinson International Society (EDIS). Foi pesquisador visitante nas Universidades de Münster (Alemanha), Lyon2 (França), e Buffalo (English Department), e realizou pós-doutorado/estágio sênior CAPES na Yale University (com Dudley Andrew, no Film Studies Program). Publicou recentemente o livro de … Continue lendo “Adalberto Müller”
Aulas
AULA 1
Data: 18/01/2022
Horário: das 19h às 21h
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AULA 2
Data: 19/01/2022
Horário: das 19h às 21h
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AULA 3
Data: 20/01/2022
Horário: das 19h às 21h
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AULA 4
Data: 21/01/2022
Horário: das 19h às 21h